Aquele sobre a verdade inventada

Tudo o que eu queria era mudar, dando uma reviravolta em minha vida. Num giro de cento e oitenta graus, mudar a direção dos meus pensamentos, das coisas que não me fazem bem, mudar simplesmente guiada pelo coração valente de uma vida inteira percorrendo o estreito caminho, cujo norte era a felicidade.

Não sei se era muita ousadia persistir naquilo que mais me amedrontava… Embora a consciência dissesse para prosseguir, ainda tinha as minhas dúvidas e o danado do coração me freava em paralelo, de maneira abissal. Prosseguir não era mais uma missão, mas sim o desejo profundo de uma vida inteira aprisionada na realidade, que ora a fantasia teimava em colorir as máscaras do teatro, que volte e meia me faziam relembrar a infância no reino perdido.  A possibilidade de transformar em outras realidades por um curto espaço de tempo seria a solução de meus problemas, a cura de meus impasses emocionais.

E foi assim que me encontrei com o teatro, ou será que pode ter sido o contrário? não sei, só sei que de maneira adormecida ele sempre estivera ali, pertinho do meu coração, prestes a acionar o gatilho da arte imaginativa sucumbindo todo o caminho cujo final era o palco iluminado. Os holofotes anunciavam que o concerto ia começar e a única coisa que me ligava a cena era a emoção, num destino pródigo de alma que clama por ousadia, transbordando papéis eu diria que o meu desejo naquele momento era – citando Clarice Lispector – não ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. 

 

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