O mar dela… o amar d’ela.

Epígrafe
Julieta:
Por que partir tão cedo? inda vem longe o dia…
Ouves? é o rouxinol. Não é da cotovia
Esta encantada voz. Repara, meu amor:
Quem canta é o rouxinol na romãzeira em flor.
Toda a noite essa voz, que te feriu o ouvido,
Povoa a solidão como um longo gemido.
Abracemo-nos! fica! ‘inda vem longe o sol!
Não canta a cotovia: é a voz do rouxinol!

(Ato III, cena V. SHAKESPEARE, William)

Inspirado em Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

A única coisa que não me deixava esquecer aquela noite na sacada, à meia-noite, era a rosa amarela, estonteante que pairava sobre o lago de minhas emoções tardias, quase nulas, recheadas por um amor não correspondido. Melancolia, era o que eu sentia à sua espera, numa noite primaveril de setembro à madrugada do jardim de ilusões que se formava naquela singela beleza, quase virginal que desabrochava entre os anseios do meu ser.

O mar ao longe, o amar d’ela furtivo e envolvente era único, imperfeitamente magistral. Era a mescla de uma inocência perdida, infinitamente desiludida em meio aos frios pensamentos de uma noite quase idílica de verão. Os noturnos devaneios paralisaram meus sentidos que outrora foram inevitavelmente perdidos…  Corpo, mente, espírito unidos pelo singelo desejo de manter-se  plenos até o amanhecer. Assim como a cotovia que prenuncia a manhã e seu desejo íntimo de perdurar até o encontro com o rouxinol. Juntos, desfaleceram-se até as cinzas, como a fênix mais doce, encantando o entardecer.

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