Aquele sobre o romance de cinema

Essa coisa de ser um romântico e um carente quase que crônico me fez desenvolver uma ideia um tanto quanto maluca, que acredito ser compartilhada por grande parte das pessoas, a ideia do: “Eu quero amor de cinema!” Até que um dia caiu a ficha de que, definitivamente eu NÃO QUERO esse tipo de amor. Claro que estou falando do romance estereotipado, cheio de sofrimento, idas e vindas e por ai vai, um amor que supera todas as barreiras, que supera tudo, etc… no fim das contas parece que isso parte dos ensinamentos que temos desde cedo, que temos que sofrer pra dar valor, que tudo que vem fácil vai fácil e tudo aquilo que ouvimos sobre resiliência e toda a jornada do herói para conquistar a vitória.

É comum assistir uma série, torcer para o casal ficar juntos, ver aquele filme onde dá tudo errado e eles conseguem ficar juntos só no fim e passa uma ideia de que agora sim, chegou o final feliz, quando não paramos pra pensar que foi apenas o final do filme, e ver isso repetidas vezes também ajuda a construir um ideal em nossa mente sobre como o amor deve ser sofrido. Ontem eu vendo um seriado, emocionado, pessoas sofrendo, se apaixonando, casando com uma pessoa amando outra, foi como se de alguma forma eu tivesse desistido disso ou me livrado disso, ainda acho que enquanto formula de ficção funciona e continuarei consumindo livros, filmes e tudo mais sobre o amor, mas pra vida real, ah pra essa eu quero algo melhor do que isso.

Como diria Cazuza, eu quero a sorte de um amor tranquilo. Mas chega uma hora que essa ideia de romance tranquilo realmente acaba caindo por terra, não adianta se apegar a sinais ou querer quebrar paradigmas, reciprocidade, ou tem ou não, não se força isso. Como dizem, de perto ninguém é normal, e eu estou bem longe de ser, e quando você passa uma vida inteira vivendo um filme, chega uma hora que inevitável que você saia da sala do cinema e tenha em mãos a dura decisão, viver outro filme ou passar a ser o roteirista da sua história?

É mais ou menos como o filme Feitiço do Tempo, aquele do dia da marmota. A vida sabe funcionar bem como uma sala de cinema, ela não se importa em rodar o mesmo filme quantas vezes for necessário até que em algum momento você abra os olhos e observe os padrões e seja sincero com você. A primeira fuga é: jogar a culpa nas outras pessoas. A segunda: se colocar como vítima das circunstâncias. Caminhos fáceis para quem espera que de alguma maneira o universo tenha peninha de você, passe a mão na sua cabeça te livre de todos os seus fantasmas. Difícil é você sair da cadeira do coitadinho que fica ali vendo o filme e procurar dentro de você quais são os seus problemas reais. Difícil é assumir isso, falar em voz alta e ter a coragem para mudar. Mudanças são dolorosas, enfrentar fantasmas do passado assustam, você perde noites de sono, você chora, você sente dor, mental e física e quando acha que tudo passou, a vida, aquela sábia, porém brincalhona, traz alguém, escolhida a dedo, lá do meio do passado e coloca ela na sua frente, a sensação é mais ou menos como quando aprendi a nadar, me jogaram no meio da piscina e disseram: volta! Assim, a água e eu. A vida faz isso, coloca as situações e diz: Resolve! Se você não resolve, não tem problema, ela vai arrumar um jeito de te colocar em uma situação pior mais pra frente, pode esperar.

Essa coisa de ser um romântico e um carente quase que crônico me fez passar por batalhas extremamente difíceis e todas elas estão diretamente ligadas às minhas atitudes e a minha reação às lições da vida. No fim das contas apesar da dor que cada uma dessas batalhas causa, é sempre saber que por mais que a vida pareça ser sádica por diversão, ela é apenas uma mãezona te ajudando a evoluir e quem sabe, apenas quem sabe, um dia não será o filme você vai escrever para a sua vida rodando em algumas salas por ai  na tentativa de ensinar outros que já estiverem sentados na cadeira que você está hoje.

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