Aquele sobre Adaptação
Todos os dias eu acordava com uma mensagem dela, mesmo nos dias em que eu acordava antes da mensagem chegar, ela era o meu termômetro pra saber como seria o dia e era perfeito assim como ela desejava. Depois de um tempo as mensagens pararam, um oceano nos separava. Às vezes parece que ainda as recebo, talvez em algum universo paralelo ela ainda mande. Talvez um dia ela saiba o quanto eram importantes. Ou ela já sabe? Acho que eu nunca saberei. Espero que um dia, lá pelo final da vida possamos relembrar essas histórias e contar as verdades entre uma mensagem e outra.
Hoje é tão difícil encontrar relações como essa, existe uma superficialidade na maioria dos casos que nos força a fazer escolhas. Parece um mundo onde todo mundo está pensando em outra pessoa mas preferem manter isso em segredo, é um mundo onde todos odeiam a idéia de saber que todos fazem as mesmas coisas, onde se imaginam com outra pessoa e mesmo assim continuam com segredos ao invés de seguir o coração. Talvez hoje o medo ainda supere a vontade. Isso é triste. Não sei se é saudosismo ou ingenuidade, talvez um pouco dos dois, mas era tão bom quando mesmo as menores demonstrações de afeto significavam alguma coisa e um “eu te amo” não tinha prazos de validade.
Tem dias que parece que um tempo como esse não voltará mais, tempo onde eu conseguia ouvir o grito de felicidade dela lá da cozinha só de me ver pela fresta da janela entre as barras de ferro do portão. Tempos em que nossos maiores sonhos e devaneios saíam de conversas deitados no tapete do corredor ou no penúltimo degrau da escada da sala. Não era necessário dizer todo dia o quanto nos amávamos, mas o amor contagiava a todos em volta, numa ligação além de palavras que mesmo longe, em outro continente havia uma sintonia da qual não se procura explicação, apenas se sente. Pode ser que esse tempo não volte, que eu nunca receba aquele cafuné no colo dela deitado no sofá, eu nunca pegue no sono sabendo que ela estará ali me olhando, acho que nunca sentirei ela secando sequer uma lágrima que escorrer pelo meu rosto e me abraçando do jeito que só ela sabia.
Estou me adaptando a um mundo onde as garotas que colocam alguma cor em minha vida, são complexas como cubos mágicos onde cada um dos quadrados mude de cor constantemente. Um mundo onde a melhor idéia de amor abraçá-la e dançar lentamente em um quarto em chamas, aproveitando cada momento, sabendo que os melhores dias dela serão os seus piores. Um mundo onde um está apaixonado enquanto o outro está indo embora.
Todos os dias eu acordava com uma mensagem dela. Hoje, de vez em quando, ainda sonho com uma mensagem dela.
– William Morais