Aquele escrito por nós
Pétalas caídas sob o livro em cima da mesa anunciavam a sua chegada. Estaria eu enlouquecendo por achar que aquela carta amassada seria um possível pedido de casamento?
Não sei. Só sei que aquilo era um sinal. Sinal que representava toda uma essência vivida por nós, desafios, promessas que fizemos juntos: ter um casal de filhos que se chamariam Bernardo e Alice, morar no campo, longe de tudo e de todos, longe da confusão da cidade grande. Teríamos uma vida inesquecível um ao lado do outro, nossos filhos seriam educados em casa e se tornariam ser-humanos diferenciados, íntegros, respeitosos, dignos de perpetuarem a raça humana com primor.
O aroma da rosa sob o livro transformava as palavras inebriantes de minha mente em uma única certeza: marcarmos a data do nosso casamento, fazermos todos os preparativos desde a escolha do padre até a degustação de docinhos; As rubras pétalas trouxeram ao meu imaginário aquela cena inesquecível – nós dois saindo do musical na Broadway na quinta avenida, New York em janeiro de 1995.
Estávamos numa noite gélida, com inúmeros casacos e cachecóis, mas nada resolvia o frio glacial do vento que sorrateiramente batia em nossos rostos ao caminhar pela rua. A única coisa que aquecia aquela noite era nosso coração, nos meus dedos um anel de brilhante e na minha alma uma alegria devastadora. O musical ficou em nossas memórias até o dia do nascimento de nossos filhos.
A chegada de Alice e Bernardo, os gêmeos univitelinos, concretizou e reforçou ainda mais o nosso amor adolescente. Ai, como esquecer o enxoval maravilhoso que compramos juntos em New York? Definitivamente tudo isso aos meus olhos eram lembranças inesquecíveis ao lado do homem da minha vida, meu amante, meu amor, meu amigo e fiel companheiro.
É por essas e outras que nunca esquecerei as palavras daquela carta, e guardarei comigo a rubra rosa até a minha morte como símbolo de um amor de juventude que perdurou minha vida inteira.