Aquele sobre as mesmas histórias
Um dia uma garota me ligou, eu estava ali terminando aquele chá antes dormir, enquanto ouvia ela falar sobre o quanto não aguentava os mesmo tipos de cara com quem ela saia, entre um gole e outro, ouvi atentamente, e ela estava me contando a mesma história que sempre ouvimos, a garota encontra o cara, o encanto acontece, são dias de conversas e encontros divertidos, momentos de intimidade que fazem pensar que são únicos, até que de uma hora pra outra, as conversas esfriam, ele tem um trabalho que é mais urgente, algum problema com a família, ou qualquer outro motivo educadamente importante, importante o suficiente para que ele não se sinta tão culpado por estar agindo de forma tão imatura. O clima fica estranho, eles conversam, ela diz o quanto está chateada por se sentir usada, nos próximos dias ele volta a ser o mesmo cara carinhoso, até que some novamente. Quem nunca viveu essa história?
As pessoas estão tão acostumadas a relações rasas que se esquecem de observar que existe uma troca e que ali na frente delas, existe uma outra pessoa, que apesar de estar tão machucada por ter conhecido tantas outras pessoas como essa que está ali, prestes a machucá-la, ela ainda confia, ela consegue passar por cima de tanta falta de reciprocidade, tantas atitudes vazias e mesmo ainda sentindo dores em cicatrizes recentes, elas teimam em confiar que dessa vez será diferente. E novamente, mesmo que no fundo, houvesse um sinal de alerta gritando para tomar cuidado, ela acredita que dessa vez possa ser diferente. Esse ciclo se repete, ora com uma garota, ora com um cara, ou pior, às vezes os dois fazem isso de forma tão automática que se perdem no medo de ter encontrado alguém que possa finalmente quebrar esse ciclo.
Existe um emaranhado de situações na vida que fazem com quem deixemos de lado a importância de olhar para o outro, de nos permitir ver que talvez, quem está ali na nossa frente possa nos tirar desse jogo de cartas marcadas, fingimos não nos importar mesmo que quando deitamos a cabeça no travesseiro, sabemos que algo está errado, nos recusamos a ouvir aquela voz que tenta desesperadamente gritar lá no fundo, escondida atrás do nosso ego e de nossas inseguranças, clamando para que possamos dar a oportunidade de baixar nossas barreiras e deixar alguém se aproximar. Existe um medo tão grande de receber aquilo que tanto desejamos que procuramos desculpas como, “não quero te machucar” ou o famoso “não é você, sou eu” que vem velado em frases como, “eu não quero me apegar”, mesmo que já esteja se apegando a outra pessoa, e geralmente as pessoas que se orgulham de não querer se apegar, se apegam a quem não consegue dar valor a elas.
Depois de terminar o chá e tentar dar algum conselho aceitável, mesmo que inútil, enfim, nada do que se diga nesse momento serve de remédio para alguém que novamente se sentiu usada, fiquei pensando sobre como chegamos a esse ponto, é muito mais fácil se esforçar para ter alguém que não nos valoriza do que simplesmente aceitar que existe uma pessoa na sua frente de coração aberto para te oferecer o que hoje em dia quase não se encontra. Besteira minha acreditar que isso é de hoje, é a história da humanidade se repetindo, porém agora, na era da tecnologia, as relações superficiais se propagam como um vírus e pulamos de uma para a outra com a facilidade de um deslizar de dedos para esquerda ou para a direita.
Um dia uma garota me ligou, eu estava ali terminando aquele chá antes dormir enquanto ouvia ela falar sobre o quanto não aguentava os mesmo tipos de cara com quem ela saia, e no fim das contas entre chás, cafés e horas de troca de uma suposta intimidade, o que resta da maioria dos pseudo-relacionamentos modernos é um gelado resto do líquido que um dia já foi quente e acalentou nossa alma, largado em uma caneca transbordando de medos e verdades não ditas.