Aquele sobre Se Despedir da Dor
Quem me conhece um pouco sabe que eu tenho um apego pelo drama. Não é algo consciente, acho que é parte de um acúmulo de situações da vida. Dessas que quando passamos achamos que estamos completamente recuperados, mas existe uma reserva dentro de nós, onde os resquícios de angústias ficam acumulados e isso potencializa as dores seguintes. Como evitar isso? Se conhecendo o melhor possível, lidando com tudo de peito aberto sem medo de sofrer, de demonstrar sentimentos, sem medo de ser mostrar um ser humano por completo. Esqueça julgamentos, paradigmas e dogmas, seja pleno e deixe tudo que precisar sair de você, ir embora.
Cedo ou tarde aprendemos a lidar com isso. A teoria eu já conhecia, a prática tem sido dolorosa, certas coisas você não encontra em livros, não se aprende por observação, não, você só aprende quando passa. Quanto maior a sua reserva de angústias, maior o sofrimento. Então passar pela dor acima de tudo é uma oportunidade de se purificar. Não importa o brilho do sol lá fora, tem dias que são nublados com possibilidades de chuvas infinitas no coração. Tudo que se precisa é um cobertor quente e um quarto escuro com sua série favorita na TV. Tem dias que a sensação de que ninguém no mundo vai te compreender é mais forte do que a vontade de falar tudo. Tem dias que a vontade de ficar sozinho é maior que a necessidade de um colo. Tem dias que são foda.
Cada um tem o seu método para lidar com tudo, em Friends eles falam sobre os passos para sair da fossa. Outros fumam e bebem, alguns vão para a balada, outros simplesmente se fecham em um casulo esperando a melhor forma de renascer transformado. A metáfora da Fênix se encaixaria bem aqui. No meu caso preferi absorver tudo, entender o máximo possível e aprender com cada situação. Foi a melhor escolha? Talvez sim. A menos dolorosa? Com certeza não. Foi a minha forma de lidar com as coisas, mas acho que em algum momento perdi a mão.
Me lembro no filme Amor Além da Vida quando dizem ao Robin Williams que se ele ficasse muito tempo lá no meio da tristeza ele poderia não conseguir sair. Acho que eu estava quase nesse ponto, ainda bem que tem muitas coisas além de nossa compreensão conspirando para o nosso bem. Abrir os olhos nem sempre é uma tarefa fácil. Abrir os olhos sozinho então, nem se fala. Não é vergonha nenhuma receber uma mão para se levantar. Não é vergonha admitir que aceitar ajuda é sinal de força, não de fraqueza.
Quando se passa por um processo longo e transformador acredito que a primeira sensação é de medo, eu achava que esse medo estava ligado aos sentimentos passados, hoje acredito que o medo está diretamente ligado ao futuro. Deixar para trás velhos sentimentos causa um vazio, o medo é de sair da zona de conforto e não saber o que está por vir. Como dizem por ai, “Vai, se sentir medo, vai com medo mesmo” e esse é caminho. O medo ajuda, ele vem para nos ajudar a se manter atentos, não para limitar. Cada um sabe os fantasmas que carrega em seu coração. Sábio daquele que aprende a conviver com eles.
Tem horas que é preciso entender que as coisas precisam mudar e começar a se despedir de velhos conceitos. Falar menos e fazer mais. Sofrer menos e viver mais. Novas experiências. Novas lágrimas. Novas borboletas e novos sorrisos estão por ai, esperando para serem descobertos.
Quem me conhece um pouco sabe que eu tenho um apego pelo drama, se você também é, saiba que uma hora em que se deve substituir os antigos por novos. A energia que nos move está sempre em movimento, ela precisa de renovação, deixe ela fluir, entrar, te purificar, sair e dar lugar para mais energia. Pratique o desapego emocional. Valorize o passado mas priorize o futuro. Sua história de vida é importante, mas ela não acabou ainda, seu passado por mais importante que seja é só uma parte dessa história e a melhor forma valorizá-la é não viver em função disso.